Uma palavra define o terceiro dia da copa: terça-feira. Mas outra igualmente apropriada seria surpresa. Quem diria que estaríamos completamente eletrizados torcendo contra o principal parceiro diplomático e cultural do Brasil e a favor de uma terrível ditadura teocrática que mata jornalistas? Quem diria que a França sem seis de seus craques, inclusive o melhor jogador do mundo, jogaria melhor que a França com o time completo? Quem diria que o João Paulo apostaria 6x1 para a França e QUASE acertaria? Quem diria que Dinamarca (com sua eficiência nórdica) e México (com seu fervor latino) nos ofereceriam desempenhos tão frios e incompetentes? E ainda mais surpreendente foi a equipe polonesa colocar um ministro do STF para bater um pênalti...
O jogo da Arábia Saudita e a Argentina merece menção especial. O placar foi tão acachapante que os narradores e comentaristas esportivos se converteram em máquinas estatísticas citando fatos que evidenciaram a surpresa do resultado: a Arábia Saudita não vence uma seleção sul-americana desde 2004, a Arábia Saudita não marca mais que um gol em uma partida desde 2009, a Argentina nunca perdeu para um país do Oriente Médio, a Argentina nunca perdeu um jogo de estreia, nunca nenhuma mulher argentina engravidou de um saudita, 95% dos argentinos não sabe apontar a Arábia Saudita em um mapa. Inebriados, procuraram lógica no mais surreal dos resultados.
Nesse mar de improbabilidade estatística, a Rede Globo infiltrou um torcedor brasileiro na Fan Fest argentina em Buenos Aires: 50% um ato de jornalismo gonzo, 50% espírito de porco. O referido penetra escondia sua camisa da Seleção sob um casaco com o símbolo do Batman. Também carregava um boneco do Batman vestido de surfista. Ao final do jogo, o penetra ostentava o pequeno boneco com mais orgulho do que a camisa brasileira. Esse foi o tipo de realismo mágico que permitiu a Arábia Saudita vencer a Argentina: um homem orgulhoso de seu Batman surfista... como se o pedaço de plástico na forma de herói dos anos 60, de alguma forma, tivesse ajudado espiritualmente o inspirado goleiro saudita, nomeado ministro da infraestrutura do país árabe ainda ontem. Como resultado de todas essas surpresas, VINTE E SEIS apostadores zeraram o jogo da Argentina. No entanto, todos nós recebemos um prêmio muito maior: a alegria de ver a nação portenha triste.
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